Publicado em: 16/11/2022
O dióxido de cloro (ClO2) é um composto químico conhecido
como antimicrobiano e desinfetante desde o início do século 19. Foi certificado
como esterilizador, em 1988, pela Agência de Proteção Ambiental dos Estados
Unidos (EPA, na sigla em inglês) e, desde 1995, tem aprovação para uso como
aditivo alimentar na água de resfriamento para o processamento de aves
comestíveis (frango, peru, pato) e, hoje em dia, seu uso é permitido como
composto de contato direto em uma série de alimentos diferentes para consumo humano.
O ClO2 é muito eficaz contra vários micro-organismos
causadores de deterioração e putrefação de alimentos, tais como algumas
bactérias, leveduras e fungos, bem como contra patógenos, como Escherichia
coli, Listeria monocytogenes e Salmonella spp., entre outros. Seu mecanismo de
ação contra esses micro-organismos se dá por meio da desestabilização da
membrana celular destes patógenos, pelo rompimento deste tecido, causando
várias reações com aminoácidos, alteração na síntese de proteínas e oxidação de
ácidos nucleicos e proteínas.
O ClO2 é obtido quando se mistura cloreto de sódio com outro
produto químico reativo (neste caso, um ácido) para produzir dióxido de cloro
em estado aquoso (líquido) ou gasoso. Embora seja considerado mais eficiente
contra os micro-organismos em sua forma aquosa, recentemente o ClO2 na forma
gasosa obteve mais destaque como antimicrobiano ativo na indústria de
processamento de alimentos, já que, de acordo com registros de informações de
diversas pesquisas, não altera as qualidades nutricionais e sensoriais dos
produtos alimentícios e é eficaz em um intervalo enorme de pH (pH 3-8). Além
disso, essa forma gasosa de ClO2 parece ser mais eficiente porque chega às
partes inalcançáveis dos produtos frescos graças à sua alta propagação e penetrabilidade.
Sistemas já em uso de ClO2 gasoso em embalagens
O ClO2 é considerado uma grande inovação tecnológica nas
embalagens ativas, nas quais o ClO2gasoso é adicionado como composto ao sistema
e/ou materiais de embalagem de quatro maneiras:
1) Colocando-se um envelope ou sachê dentro da embalagem,
contendo o composto químico;
2) Usando-se material de embalagem revestido com o composto
na superfície interior (a que está em contato com o alimento);
3) Adicionando-se o composto na estrutura polimérica do
material de embalagem;
4) Adicionando-se o composto no espaço livre (que não contém
produto) da embalagem.
Existem várias patentes de invenções de embalagens ativas
que têm ClO2 adicionado (sozinho ou em combinação com outros compostos inertes)
em forma de tablete, envelope, bolsinha, filme, almofadinha e outras. No começo
de 2020, a empresa estadunidense Aptar Food + Beverage lançou, no mercado de
produtos agrícolas frescos (vegetais e frutas), uma solução de embalagem
antimicrobiana para embalagens seladas que utilizam ClO2, o qual é liberado
sobre o alimento. Essa tecnologia pode ser, de acordo com a empresa, até 99,9%
eficaz na proteção, ao consumidor, contra micro-organismos como os do norovírus
humano e rotavírus e contra Listeria monocytogenes, Shigella, Campylobacter
jejuni, Staphylococcus aureus, Yersinia enterocolitica, Vibrio vulnificus,
Geotrichum candidum e Feline calicivirus.
Essa tecnologia da Aptar consiste em uma base de polímero
que é ativada com a umidade proporcionada pelo alimento fresco embalado e por
um agente catalisador em conjunto com partículas de cloro e ClO2 como
ingredientes ativos. O sistema é capaz de controlar a cinética de liberação do
ingrediente ativo para garantir a eficácia contra os patógenos sem comprometer
a qualidade do produto, já que, de acordo com a empresa, o gás de ClO2 é
indetectável pelo consumidor, pois não afeta a coloração, o aroma, o sabor nem
a textura do alimento.
A mais recente inovação para embalagens de carne
Uma desvantagem de alguns sistemas modernos de adição e
liberação de ClO2 gasoso em embalagens é que o gás é gerado quase imediatamente
depois de a embalagem ser lacrada e enquanto o ambiente dentro dela é
preenchido com a umidade liberada pelo alimento. O enfoque, então, da mais
recente inovação tecnológica com a utilização de ClO2 gasoso para a conservação
de alimentos frescos, entre eles a carne, é que o gás de ClO2 é liberado mais
vagarosamente. Isso foi obtido graças à colocação, dentro da embalagem, de uma
“etiqueta” de várias camadas, formada de folhas laminadas individuais feitas
com pectina ou gelatina; cada uma destas folhas contém os precursores reativos
de ClO2, que são, neste caso, um ácido orgânico e NaClO2 (cloreto de sódio).
Graças às várias camadas, a etiqueta se mantém “inativa” na superfície interna
da embalagem, mesmo na presença de alta umidade, sendo que é ideal para
produtos de carne fresca. Para ativar essa etiqueta e obter a formação de gás
antimicrobiano, aplica-se uma força mecânica, a qual rompe as folhas de gelatina
e permite a mistura dos precursores de ClO2 gasoso mencionados. O uso das
múltiplas camadas dessa tecnologia permite a adaptação da etiqueta para
diferentes produtos e diferentes processadores, e a liberação de gás de ClO2
pode ser feita quando necessário, seja durante o transporte, a distribuição ou
no ponto de comercialização no varejo.
Conclusão
O dióxido de cloro é um composto antimicrobiano extremamente eficiente, sendo autorizado por diversas agências governamentais para ser usado em contato direto com alimentos e, em sua forma gasosa, este composto é ainda mais eficiente, já que chega a todos os locais inalcançáveis do alimento embalado. O ápice da utilização de dióxido de cloro na forma gasosa como conservante de alimentos e como agente para aumentar a vida de prateleira de alimentos frescos gerou uma onda de desenvolvimento de embalagens ativas que utilizam esse composto como ingrediente ativo principal. Embora as embalagens desenvolvidas tenham demonstrado alguns prós e contras devido à dificuldade de regulação na liberação de ClO2 gasoso em uma embalagem de alimentos, o futuro deste composto na indústria alimentícia é bastante promissor.